Page 344 - Ultrassonografia Aplicada à Dermatologia e à Cosmiatria - Uma Abordagem Clinica e Ecográfica
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ULTRASSONOGRAFIA APLICADA À DERMATOLOGIA E À COSMIATRIA
NÃO MELANOMA
Carcinoma basocelular
O carcinoma basocelular (CBC) é o câncer mais frequente em humanos. Origina-se nas células da
epiderme, estando a camada basal tradicionalmente implicada. Recentemente, questiona-se a possibili-
dade da sua origem ser nas células pluripotenciais desse extrato ou do folículo piloso. Estão localizados,
prioritariamente, em áreas expostas ao sol, em especial, face e pescoço, geralmente homens idosos com
pele, cabelos e olhos claros. A exposição solar, principalmente na infância, é o principal fator de risco im-
plicado. Algumas síndromes genéticas estão relacionadas à sua maior incidência, como Síndrome do Nevo
Basocelular (Síndrome de Gorlin), Xeroderma Pigmentoso e Albinismo. Exposição ao arsênico, à radiação
ionizante e imunodeficiências também são fatores implicados. A mutação dos genes de supressão tumoral
p53 e do PTCH (via de sinalização Hedgehog) está relacionada à sua gênese.
Apresentam crescimento lento, geralmente assintomático, mas, em caso de infiltração nervosa (rara),
pode haver dor neuropática. O sangramento espontâneo ou devido a pequenos traumas é comum, levando
à suspeição em lesões cutâneas com essa queixa.
São de diagnóstico clínico e auxiliado pela dermatoscopia. Quando necessária, a biópsia (incisional
ou com punch), associada ao exame anatomopatológico, é elucidativa. Deve-se considerar que o espécime
obtido pode não demonstrar todos os tipos histológicos do tumor, já que é possível haver tipos diferentes
associados. O ultrassom de alta frequência (USAF) pode apontar as áreas de maior risco para subtipos
agressivos e guiar o melhor local do procedimento.
Não costumam dar metástases, mas podem invadir planos profundos e levar a lesões desfigurantes,
geralmente muito difíceis de tratar. As áreas com subcutâneo menos espesso e a pele das pálpebras, ore-
lhas e nariz são, reconhecidamente, áreas mais vulneráveis.
Atualmente, as campanhas de prevenção do câncer de pele e o uso da dermatoscopia resultaram no
aumento do diagnóstico precoce do CBC, identificando, muitas vezes, lesões tão iniciais que necessitam da
complementação propedêutica. A USAF se mostra como método ideal, trazendo mais detalhamento das
lesões suspeitas, é acessível, sem morbidade para o paciente e realizado em tempo real. O exame pode
auxiliar de várias formas: diagnóstico e suspeição do tipo histológico do tumor, principalmente os mais
agressivos; detecção de metástases à distância, em trânsito e linfonodais; observação de lesões profundas
e invasão de estruturas anexas; e análise de margens cirúrgicas pré, per e pós-operatórias.
Tais fatos exigem do ultrassonografista dermatológico um compromisso contínuo com o aperfeiçoa-
mento e validação da técnica, no que se refere à valorização de lesões incipientes e ao conhecimento dos
critérios diagnósticos, além da interação com o médico solicitante para acrescentar mais evidências ao
exame solicitado.
I. Classificação clínica e subtipos histológicos
A classificação clínica do CBC apresenta variações entre autores. Para este texto, baseamo-nos na
classificação estabelecida pela World Health Organization Classification of Skin Tumours, que associa os
subtipos histológicos e o risco de recidiva das lesões.
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